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Três poemas de Luisa Isabel Villa Meriño

Mientras lavo los platos
pienso que en otras casas los platos no solo se lavan
se tiran al suelo y se queman…

El mundo interior de las flores es tan violento
como el de los tigres

***

Enquanto lavo os pratos
penso que em outras casas os pratos não apenas são lavados
são atirados ao solo e queimados...

O mundo interior das flores é tão violento
quanto o dos tigres...
Mi amiga dice
que en las plantas de los pies lleva el nombre de su agresor
pisarlo le ayuda a reescribirse
Me complace la valentía de las otras
debemos estar libres de todo mal
¿y yo? ¿Se puede escribir “agua”
y pisarla?
Siento las piernas como rocas grandes…
¿He de autoexcluirme de mi guerra?

***

Minha amiga disse
que nas plantas dos pés leva o nome de seu agressor
pisá-lo lhe ajuda a reescrever-se
Me agrada a valentia das outras
devemos estar livres de todo mal
e eu? Pode-se escrever “água”
e pisá-la?
Sinto as pernas como rochas grandes...
Hei de excluir-me de minha guerra?

Soy una niña que no crece
y como moisés
rueda
río abajo…

Soy una mujer que se alargó de forma prematura los huesos
porque quiso ser más larga que el río
y salvar a la niña que
se ahoga mientras llueve
Me han dicho: Hay que volver al lugar en donde se
prendió el espanto

¿Cómo?
si los verdugos quieren agua y secan la rivera
quieren reír y prohíben el llanto
quieren la tierra y prohíben los entierros…

Yo quisiera escribir algo
en el cuerpo mutilado del rito
o algo que me diga
cómo retorno

***

Sou uma menina que não cresce
e como moisés
roda
rio abaixo...

Sou uma mulher que alongou de forma prematura os ossos
porque quis ser mais longa que o rio
e salvar a menina que
se afoga enquanto chove
Disseram-me: tem que voltar ao lugar onde
se prendeu o espanto

Como?
se os carrascos querem água e secam os arroios
querem rir e proíbem o pranto
querem a terra e proíbem os enterros...

Eu gostaria de escrever algo
no corpo mutilado do rito
ou algo que me diga
como retorno
Luisa Isabel Villa Meriño (Os poemas integram o livro Dios fue mejor cuando era tigre, 2020)
Tradução: Lílian Almeida

O risco poético de Irina Henriquez

O domínio do ínfimo

I

Isso que escuto não é um pássaro
que canta nesta tarde.
E sim a lembrança de um outro que cantou
naquela manhã em que acordei
tão acesa quanto a árvore
tocada pelo raio de sol.

E aquele canto foi ainda a lembrança
que imaginei escutar
numa tarde como esta embaixo de uma árvore
que serviu de sombra
a uma tumba esquecida.

O tempo é esse pássaro prisioneiro
que não para de cantar.  

II

O pássaro rompe velozmente
o ar pesado deste dia.
E conduz minha visão por caminhos em que é lícito calar
para que o vento e as folhas ébrias das árvores
falem. 

O que falam?
Eu não sabia decifrar.

Sussurram suavemente uma canção antiga
camuflada de galho em galho
como pequenos animais.

Ao chegar nas alturas
um trovão distante ensurdece a canção
e lança ao vazio sua silenciosa morte
antes que o pássaro rompa novamente
a ébria densidade do mundo.

 

Encontro 

Minha maneira de esperar que algo aconteça é obsessiva. Espero sempre que se
lance sobre mim a fera que se esconde por detrás dos acontecimentos do dia. Mas não
espero mais que poucos segundos: desejo que me encontrem enquanto busco ou enquanto
celebro qualquer achado.  

A melhor forma de encontrar é ficar imóvel enquanto tudo gira ou as sirenes 
tocam: o mundo então é todas as coisas que antes ou depois se camuflam embaixo da
aparência do cotidiano. Desejo o turbilhão de imagens que ficam atrás de cada movimento
nas ondas leves do ar. Desejo ser aquilo que tu olhas sem saber, todas as coisas que
em nome do destino foram dedicadas ao vazio do abandono. Porque não te deste conta,
porque o gavião é dono de sua queixa, mas desconhece o que me tem passado, porque
está no mundo e é meu encontro.
Irina Henríquez (In: A riesgo de Caer, Ed. Corazón de Mango, 2012)
Tradução: Edson Oliveira
Revisão: Clarissa Macedo e Verónica Aranda

Solo un destino poseo

Solo un destino poseo.
(Y la sospecha
de que resbala de mis manos
sin poderlo reclamar)

Solo una contracción espiritual
ante un espejo que nada dice.
(Y la certidumbre
de que la araña existe
a pesar de su belleza inútil)

Unas manos precursoras,
unos ojos temerosos de la noche
y unas cuantas vidas aplazadas
tan sólo poseo.

 

Só um destino possuo

Só um destino possuo
(E a suspeita
de que escorre de minhas mãos
sem poder reclamá-lo)

Só uma contração espiritual
frente a um espelho que nada diz.
(E a certeza
de que a aranha existe
apesar de sua beleza inútil)

Umas mãos precursoras,
uns olhos temerosos com a noite
e algumas vidas suspensas
tão somente possuo.

 

Irina Henríquez (A riesgo de caer, 2012, Ediciones Carazón de mango)
Tradução livre: Lílian Almeida

 

XXIV Encuentro Nacional e Internacional de Mujeres Poetas – 4

Finalizando a partilha da poesia que encontrei no XXIV Encuentro Nacional e Internacional de Mujeres Poetas, em Cereté, Colômbia, compartilhando um pouco da arte da poeta colombiana Yirama Castaño Güiza.

El silencio de los bosques

A lo lejos,
un pájaro canta
en honor del Dios de los árboles.
Nadie, entre aquellos que conversan,
se ha dado cuenta de la mudez
que mueve sus alas.


O silêncio dos bosques

Ao longe,
canta um pássaro
em honra ao Deus das árvores.
Ninguém, entre aqueles que falam,
se deu conta da mudez
que move suas asas.


Un parque natural

En ese extraño lugar
cada día tiene una única palabra,
cada sombra busca su destino
cada boca pronuncia una oración
cada animal entierra bajo la luna su propia piel
cada hombre prolonga la mano a su manera
    y dibuja líneas blancas en la selva. 
En ese maravilloso lugar
cada flor es primavera
cada sonido es un pájaro
y los pequeños aprendices
dan vuelta a la memoria
raspan olvidos,
anudan el hilo
y cortan el tiempo
     con sus dientes.


Um parque natural

Nesse estranho lugar
cada dia tem uma palavra única,
cada sombra procura seu destino
cada boca pronuncia uma prece
cada animal enterra sob a lua a própria pele
cada homem estende a mão a sua maneira
    e desenha brancas linhas na selva.
Nesse maravilhoso lugar
cada flor é primavera
cada sonoridade é um pássaro
E os pequenos aprendizes
enovelam a memória
alisam esquecimentos,
amarram o fio
e cortam o tempo
     com seus dentes.


Poemas: Yirama Castaño Güiza
Tradução de Marcia Pfleger

 

Al aire libro_2017

Imagem cedida pela poeta

Yirama Castaño Güiza nasceu em Socorro, Santander – Colômbia. É jornalista e editora. Participou da criação e fundação da Revista e da Fundación Común Presencia. Faz parte da assessoria do Encuentro Internacional de Mujeres Poetas de Cereté, Córdoba. Seus poemas são traduzidos e publicados na Colômbia e no exterior. Participou de importantes festivais de poesia na Colômbia e em encontros internacionais de escritores. Livros publicados: Naufragio de luna, 1990; Jardín de sombras, 1994; El sueño de la  otra, 1997; Memoria de aprendiz, 2011; Malabar en el Abismo (antología), 2012; Poemas de Amor (Yirama Castaño, Josefa Parra), 2016; Corps avant l´oubli, Cuerpos Antes del Olvido (Yirama Castaño, Stéphane Chaumet e Aleyda Quevedo), 2016; Antología Poética Ventre de Lumiére, Vientres de Luz, 2017, Queda la Palabra Yo, Antología de poetas colombianas actuales, seleção Verónica Aranda, Ana Martín Puigpelat.