A poesia do fio de Arthur Bispo do Rosário

A arte é clarão misterioso e inabarcável que nos sequestra ante a loucura cotidiana. Talvez, assim, consiga traduzir um pouco daquilo que não consigo falar, pois me toma inteira.

A poesia do fio, exposição do artista (sergipano de Japaratuba) Arthur Bispo do Rosário é dessas exposições que nos sequestram. Mesmo inserida no agora, fui levada para esse lugar inabarcável que só a arte pode levar, e que não sei, agora, nomear.

Com o fio e a agulha o artista tece seu caminho de fuga da loucura instalada nos manicômios, especialmente a Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, onde esteve muitas vezes internado.

Ver as obras, percorrê-las uma a uma a ponto de ouvir-lhes. Um estridente e surdo grito ecoa pelas paredes e teto. Escuto em baixa voz os nomes, infinidade de nomes, seguidos um a um num sem fim. A recorrência de nomes e imagens em distintas peças artísticas me insere no desejo de fugir da loucura presente nos muros altos dos sanatórios e impostos aos que lá estão reclusos.

Não pude deixar de lembrar do filme brasileiro Bicho de sete cabeças, dirigido por Laís Bodanzky. Inúmeros são os socos desferidos no estômago, seja pelas cenas protagonizadas por Rodrigo Santoro, seja pelos tênues fios traçados por Bispo do Rosário.

Impossível dizer das minhas emoções diante do nocaute da loucura, da vitória da arte e da fragilidade do artista, do homem.

Saí do Santander Cultural com as vísceras aturdidas: coração, estômago, cérebro, todos revirados! Loucamente revoltados, indignados, estarrecidos, encantados.

Precisei internar-me. Voltei-me para dentro de mim por três dias, amainando toda a fúria das emoções suspensas. Após a alta, retorno aos caos e registro um décimo do mergulho no louco labirinto lúcido de Arthur Bispo do Rosário conduzido por seus próprios fios.

Lílian Almeida

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